Lèlita Santos – Especialista de Medicina Interna, Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
O Dia Internacional da Mulher é comemorado a 8 de março. Reconhecido desde 1977 pela Organização das Nações Unidas, celebra as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres ao longo dos anos e a luta contra a descriminação racial, sexual, política, cultural ou económica, entre outras.
Este ano, o tema do Dia Internacional da Mulher é “Mulheres na liderança: Alcançando um futuro igual num mundo de COVID-19 ”. É um facto que as mulheres têm estado na linha de frente nos diversos níveis da luta contra esta pandemia, como profissionais de saúde, cuidadoras, empreendedoras e coordenadoras. Neste combate à pandemia muitas mulheres têm sido as líderes mais eficazes. Aliás, ao longo dos séculos, em situações de crise, as mulheres sempre estiveram na 1ª linha dos combates, dando o seu contributo de forma marcante e corajosa.
Em várias áreas, as mulheres conquistaram o seu lugar em paridade de género. No entanto, noutras, mesmo na atualidade, continuam a lutar todos os dias para melhorar a vida e alcançar os seus direitos. Existem, a vários níveis e em algumas regiões do Mundo, preconceitos que condicionam desequilíbrios inadmissíveis e temos de ter consciência de que ainda há muito a fazer. Estes desequilíbrios agravaram-se com a pandemia em todo o mundo e mais para as mulheres, registando-se o aumento do desemprego e da pobreza, da violência doméstica e das tarefas de apoio não remuneradas.
Na medicina, as mulheres trabalham em perfeita paridade com os homens e isso deve-se ao reconhecimento da sua igual capacidade técnica e científica e da enorme capacidade de trabalho e motivação. Acresce, convenhamos, as qualidades humanísticas. Em medicina, como em qualquer outra profissão, um dos ingredientes-chave para o sucesso é a pluralidade e o trabalho em equipa e isso existe atualmente sem entraves objetivos.
É curioso analisar a evolução dos números relativos à representatividade das mulheres na medicina portuguesa – já há mais médicas! De acordo com dados do INE, em 1999, havia 31.735 médicos, dos quais 44,2% eram mulheres, passados 20 anos, em 2019, de um total de 51.937 médicos, 54,7% eram mulheres. Na minha especialidade, a Medicina Interna, em 2020 as médicas eram cerca de 55%. Muitas destas médicas lideram grandes instituições de saúde, serviços reconhecidos ou áreas de investigação e são respeitadas pelos seus pares pela sua competência, capacidades organizativas e agregadoras e pelo pragmatismo. Também não se apercebe qualquer diferença no reconhecimento pelos utentes e doentes relativamente às suas médicas, reconhecem-lhes as capacidades científica, clínica e a dedicação.
Salvo raríssimas exceções não se notam barreiras no ambiente de trabalho ou à progressão na carreira médica, para as mulheres. Claro que, como para todos, homem ou mulher, a prioridade está em terem mais além de um trabalho gratificante e, por isso, as organizações têm de garantir o reconhecimento desse trabalho. Devem ser valorizados aspetos relacionados com a flexibilidade laboral, medidas mais atraentes de conciliação da vida pessoal com a profissional, horários flexíveis, ambiente colaborativo e de trabalho em equipa e tempo para expressar opiniões livremente, além de remunerações à altura das exigências de responsabilidade e dedicação que é ser médico.
A profissão médica é exigente e a conciliação com a responsabilidade familiar, por vezes é difícil e mais pesada para as médicas. No entanto, gradualmente, o princípio da paridade impôs-se e as mulheres conseguiram demonstrar, sem constrangimentos de consciência, que há grande vantagem para ambos os géneros na partilha das tarefas familiares e profissionais, respeitando as especificidades de cada elemento. Hoje em dia, as atividades em equipa num ambiente de respeito pela liberdade individual são o paradigma, no trabalho e na família.