Exercício físico e saúde

Pedro von Hafe – Assistente Graduado de Medicina Interna, Departamento de Medicina, Hospital São João, Porto

Nesta época de restrições relacionadas com a pandemia, em que é comum ficar sentado grande parte do tempo, parece-nos importante realçar os benefícios da atividade física e lembrar o dia mundial da atividade física. Em 2015 a Academy of Medical Royal Colleges redigiu um relatório em que chamava ao exercício físico a “cura milagrosa”. Esta afirmação está baseada em evidência científica robusta. Inúmeros estudos mostraram de forma consistente que as pessoas que têm atividade física regular apresentam um menor risco de desenvolver ou morrer de doença cardiovascular quando comparadas com os sedentários.

O exercício físico está associado a menor risco de doença das coronárias, acidente vascular cerebral, diabetes tipo 2, obesidade, acumulação de gordura abdominal, osteoporose e alguns cancros (mama e cólon, por exemplo), para além de melhorar o sistema imunológico e o bem-estar psicológico. Tem vindo a ser demonstrado que o exercício protege o cérebro de decadência cognitiva que acompanha o envelhecimento, melhora a memória, a agilidade do pensamento e mesmo a criatividade. Investigações recentes mostraram que permanecer muito tempo sentado, seja em casa, no carro ou no trabalho aumenta o risco de doença cardíaca e de morte se não houver atividade física compensatória.

Um estudo mostrou que intercalar 30 minutos de atividade física ligeira com o permanecer sentado diminuía o risco de morte em 17% e se o exercício fosse de intensidade moderada a vigorosa a redução da mortalidade chegava aos 35%. Num trabalho australiano as pessoas que andavam a pé com frequência e de forma rápida tinham uma maior probabilidade de viver mais 15 anos do que aqueles que não apresentavam qualquer atividade física.

A atividade física regular ajuda a controlar o peso, baixa a pressão arterial em doentes com hipertensão arterial e melhora os níveis de colesterol e triglicerídeos. As pessoas com diabetes que fazem exercício controlam melhor a sua doença e reduzem o risco das suas complicações, e sabe-se que os indivíduos em elevado risco de desenvolver diabetes por uma história familiar pesada de diabetes conseguem diminuir esse risco em 60% através do exercício físico.

Nos doentes que tiveram um enfarte do miocárdio a terapêutica de reabilitação com atividade física diminuiu a mortalidade total em 27% e a mortalidade cardiovascular em 31%. Mais de catorze ensaios clínicos mostraram benefícios da atividade física estruturada em doentes com insuficiência cardíaca, uma das formas mais avançadas de doença do coração. Mesmo em doentes velhos hospitalizados as intervenções multidisciplinares que incluíram atividade física mostraram efeitos benéficos, apresentando menos tempo de internamento e diminuindo os custos.

Uma meta-análise que avaliou 305 ensaios clínicos envolvendo mais de 340.000 participantes mostrou que o exercício físico estruturado era tão eficaz como os medicamentos na diminuição da mortalidade por doença das coronárias e era superior aos fármacos na prevenção da morte por acidente vascular cerebral. É claro que esta análise estatística não implica que os doentes suspendam as suas medicações e a substituam pelo exercício físico. Sabe-se que o uso de estatinas (medicamentos para reduzir o colesterol) e uma boa aptidão física estavam associados de forma independente a menor mortalidade nos indivíduos em risco.

As recomendações, independentemente do género masculino ou feminino, indicam que bastam 30 minutos por dia em cinco dias da semana de atividade física moderada (150 minutos por semana). Esta atividade física moderada corresponde por exemplo a marcha em passo apressado, andar de bicicleta, nadar, dançar e mesmo cortar a relva. Num estudo, as mulheres que que andavam pelo menos uma hora por semana diminuíam o seu risco cardiovascular para metade quando comparadas com aquelas com nenhuma atividade.

As crianças entre os três e os cinco anos devem estar fisicamente ativas pelo menos três horas por dia. As crianças entre os 6 e os 17 anos necessitam pelo menos de uma hora de exercício físico diário. Um estudo de 2006 que envolveu Portugal e que incluiu crianças de 9 a quinze anos apontou que provavelmente seria necessário mais do que uma hora por dia de atividade física, de forma a manter os fatores de risco cardiovascular baixos nas crianças e isto era verdadeiro tanto para as crianças obesas como para as magras, o que indicia que devemos focar-nos não só no peso das crianças mas também na sua aptidão física.

Uma análise observacional recente mostrou que os indivíduos que iniciam a atividade física na meia-idade, mesmo que não tenham praticado qualquer exercício durante anos, podem rapidamente ganhar os benefícios da atividade física na esperança de vida. Esse relatório evidenciou que as pessoas que deixaram de ter atividade física por uma década ou duas mas que a reiniciaram nos seus quarenta ou cinquenta anos, com exercício de algumas horas por semana estavam igualmente protegidos de morrer prematuramente que aqueles que sempre praticaram exercício. Dito de outra forma, nunca é tarde para retomar a atividade física. Alguns estudos mostraram que os programas de exercício físico são benéficos mesmo nos mais velhos (com mais de 75 anos).

Para concluir, está provado que os indivíduos com atividade física ótima consomem menos dinheiro em cuidados de saúde do que aqueles com níveis baixos de atividade e isto é verdade para aqueles com ou sem doença cardiovascular estabelecida. Sendo assim, em termos de saúde pública a promoção de atividade física regular é a melhor opção em termos de custo-benefício, um verdadeiro “best-buy”.

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