Comunicação Responsável: Como falar sobre suicídio e saúde mental na imprensa e redes sociais

Este artigo foi escrito por Leonor Costa, Analista de Media na Miligrama.

No contexto do setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, é fundamental refletir sobre o papel da comunicação na abordagem deste tema delicado. A forma como o suicídio é noticiado pode influenciar a perceção pública e, por consequência, a saúde mental dos leitores e espectadores.

Num período em que a saúde mental é cada vez mais valorizada, os meios de comunicação desempenham um papel crucial na transmissão de informações seguras.  As redes sociais, em particular, tornaram-se plataformas de comunicação tão influentes quanto os media tradicionais, e com esse poder vem uma responsabilidade partilhada por todos: comunicar o suicídio com sensibilidade e precisão.

 

Cuidados ao noticiar mortes por suicídio

A comunicação eficaz e cuidadosa sobre a morte por suicídio exige a adoção de práticas preventivas que dinamizem potenciais danos. Entre elas estão:

  • Não descrever o método usado em detalhe;
  • Não fornecer detalhes sobre o local — especialmente em casos de figuras públicas, já que os estudos apontam para uma possível popularização desses espaços;
  • Não usar fotografias, vídeos ou links que se relacionam com as circunstâncias do suicídio;
  • Não usar títulos sensacionalistas;
  • Não normalizar, glorificar ou romantizar o suicídio;
  • Não apresentar o suicídio como a única alternativa às adversidades;
  • Não atribuir culpas e não identificar culpados;
  • Não usar os termos “suicídio bem-sucedido”, “tentativa falhada de suicídio” ou “malsucedida”, por implicarem que a morte é o efeito desejado;
  • Não usar o termo “cometeu suicídio”, pela sua possível associação à prática de um crime;
  • Não divulgar as notas de suicídio.

 

Recomendações para uma Comunicação responsável

Uma abordagem consciente e preventiva pode fazer a diferença na forma como o público entende o tema. Por isso, recomenda-se:

  • Tratar o suicídio como uma questão de saúde pública, não de polícia. Esta mudança de perspetiva no tratamento da notícia pode ajudar a sensibilizar os leitores/ouvintes sobre o assunto;
  • Educar a população sobre os factos do suicídio e a sua prevenção, sem propagar mitos;
  • Esclarecer que os fatores contribuidores para o suicídio são complexos, multifatoriais e muitas vezes não totalmente compreendidos;
  • Fornecer informação fidedigna e acessível sobre onde procurar ajuda e como o fazer: através de linhas de apoio, centros de saúde e serviços locais de saúde mental;
  • Reconhecer que os próprios jornalistas podem ficar afetados quando reportam sobre o suicídio, deve ser assegurada a discussão aberta e o apoio entre pares;
  • Esclarecer as consequências do ato em si, seja na forma de danos físicos e mentais permanentes (no caso de tentativa não consumada), seja no impacto que provoca na família e amigos.

 

Ao seguir estas recomendações, comunicadores, jornalistas e utilizadores de redes sociais podem desempenhar um papel vital na prevenção do suicídio e na promoção da saúde mental. Uma comunicação responsável evita danos, combate o estigma e oferece apoio a quem precisa. Dessa forma, conseguimos não só informar, mas também sensibilizar e salvar vidas, com empatia, cuidado e atenção.

Para mais informações, consulte o manual “Prevenção do Suicídio: Manual para Jornalistas”, disponível no seguinte link: https://saudemental.min-saude.pt/wp-content/uploads/2020/09/02LIVRO_PREV_SUIC_JORNALISTAS08092020_compressed.pdf

 

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